segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Vale dos Lobos Cabernet Sauvignon 2005 - Um "traidor do movimento" ou um "ousado tradicionalista"?




Nunca fui um fanático pela febre varietal, ainda mais quando descobri que ela surgiu por iniciativa dos americanos, como uma forma de tentar convencer os consumidores de vinhos de que o simples fato de se utilizar uma casta típica do velho mundo seria a garantia de que os produtores americanos estariam fazendo bons vinhos. Porém, como a grande maioria das jogadas de marketing dos EUA, o fato é que isso deu certo. Tão certo que hoje é praticamente impossível que o consumidor não se interesse por saber “de qual uva” é feito o vinho que ele pretende comprar.
Talvez essa resistência tenha surgido na minha morada temporária Portugal, onde meus amigos se orgulhavam em dizer que “vinho bom é vinho caseiro”, e onde os grandes vinhos de referência – inclusive o Porto – são sempre resultado de uma alquimia de três ou mais (as vezes muito mais) castas.
Mas o fato é que o anseio varietal é hoje parte do mundo dos vinhos. Basta ver esse blog, que fez questão de listar as variedades de uvas postadas.
Passei então a achar que o problema só era realmente sério quando regiões tradicionalmente produtoras de vinhos com castas típicas passaram a utilizar outras variedades mais desejadas pelo mercado internacional – a exemplo da Cabernet Sauvignon.
Foi justamente nesse cenário, repleto de preconceito, que provei o Vale dos Lobos Cabernet Sauvignon 2005 trazido por Fialho diretamente de terras lusitanas.
Vinho português do Ribatejo que se rendeu aos anseios mercantilistas dos yankees ignorantes! Um traidor do movimento! João Gordo dos vinhos!
Quebrei a cara. O fato é que, como a grande maioria dos preconceitos, esse também foi um julgamento errado.
Esse vinho só prova que há espaço para todo mundo (no caso todas as castas). Do mesmo modo que elogiamos nesse blog alguns tradicionais alentejanos e mesmo alguns italianos típicos, temos que elogiar essa inovadora iniciativa da Quinta da Ribeirinha. (“... empresa familiar, situada na Póvoa de Santarém, uma típica aldeia do Ribatejo, terra de Castelos, Mosteiros e Igrejas históricas, de cidades e vilas outrora Paços Reais.Tal como o nome indica, esta região situa-se na margem norte do Rio Tejo, e a Quinta localiza-se na zona do Bairro Ribatejano.”)
Um vinho tão preocupado em inovar sem se afastar das suas origens que se orgulha em anunciar que se trata de um vinho elaborado por meio de “pisa a pé”.
Um cabernet com pedigree lusitano. Um vinho muito bom, que mantém as características típicas da casta, sem perder, de forma alguma, sua tipicidade pátria – licor de passas, cravo, que lhe confere um ar “aPortoado” nos aromas. Boa persistência, taninos muito aveludados. Aos olhos, um rubi intenso e límpido. 13,5% de álcool.
É um cabernet, mas acima de tudo, é um português.

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