quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O vinho e a garrafa


Desde que Dom Perignon era vivo que a idéia da garrafa de vidro vedada por uma rolha de cortiça como veículo ideal para a comercialização, armazenamento e mesmo envelhecimento do vinho é dominante no mundo.
Não que se queira atribuir também a ele os louros da criação da fantástica idéia de que os vinhos devem ser engarrafados em vidro. Aliás, ele nem precisa de mais qualquer reconhecimento, afinal, está imortalizado pela história como o homem que deu nome ao vinho espumante mais conhecido e desejado no globo.
A verdade é que esse absurdamente feliz e duradouro casamento entre o vidro e o vinho – retificando, trata-se de um triangulo amoroso, afinal não podemos esquecer que a sugestiva rolha de cortiça se introduz na relação, lá ele! –, criou a plena convicção de que não existe outro recipiente possível para armazenar a bebida dionisíaca. Porém, há provas históricas incontestáveis de que o vinho precede a garrafa de vidro.
Os gregos e depois deles os romanos já se embebedavam aos montes sem nem sonhar em engarrafar em vidro uma gota de vinho sequer. Eles utilizavam os mais diversos recipientes, que eram fechados das formas mais criativas possíveis (couro, tecido, cera – não a de ouvido!).
Toda essa informação, atualmente, só serve como resenha de mesa de bar, se a sua intenção for demonstrar que possui mais cultura superficial e inútil que Jô Soares e sob o sério risco de que seus amigos te apelidem de Gilberto Gil dos vinhos.
O que eu estou tentando justificar é algo que é pouco justificável, porém que já é uma realidade: os vinhos vendidos em bag-in-box (aquelas caixas de 3 litros com torneirinha)
Essa semana, enquanto fazia mercado, passei pelo corredor das bebidas buscando algumas cervejas e acabei foi esbarrando com uma bag-in-box de um vinho português produzido por José Maria da Fonseca (o mesmo do Periquita). O vinho se chamava Montado, 2007. Acabei me rendendo à curiosidade.
Incorporando um pensamento semelhante ao de um cara solteiro em final de festa, tentei deixar de lado a cerimônia e fui esperando encontrar nada mais que um vinho óbvio que, se muito, serviria para uma taça solitária antes de dormir.
Aproveitei que Bernard e Fialho iriam passar lá em casa para abrir um Don Laurindo (Cabernet Sauvignon, 2005) que Bernard trouxe do RS, afinal, amigo é pra dividir as coisas boas e as ruins.
Servimos as taças com o dito Alentejano. Então, qual foi a nossa surpresa?
Surpresa?! Você acha que realmente teria alguma surpresa?! Isso aqui não é comédia romântica não, rapaz! Quer final feliz? Vá ver desenho da Disney! Vinho de caixa é vinho de caixa e acabou. Não tem charme, privilegia-se a quantidade e preço baixo. Quando muito, serve para uma taça solitária antes de dormir.
Vinho bom vem em garrafa de vidro e - digo mais - fechado com cortiça.



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